Anthony Garotinho denuncia “epidemia de corrupção” e “pacto com o crime” no governo Castro
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Em entrevista ao jornalista Joaquim de Carvalho, da TV 247, o ex-governador e ex-deputado federal Anthony Garotinho fez denúncias graves e detalhadas sobre a situação da segurança pública e da administração financeira do Rio de Janeiro, classificando o cenário como uma “epidemia de corrupção no governo Cláudio Castro”.
Garotinho, que se apresenta como autor de notícia-crime que deu origem a investigações passadas — como as que atingiram Sérgio Cabral — afirmou que o nível atual de corrupção supera o observado em gestões anteriores.
Loteamento de áreas estratégicas e crise na segurança
Segundo Garotinho, o governador Cláudio Castro promoveu um “loteamento” de áreas-chave e também de setores periféricos do governo para garantir apoio político na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ). O mais grave, de acordo com ele, foi a entrega da segurança pública a negociações políticas, marcando “mais um capítulo lamentável” na história recente do estado.
Garotinho acusa o sistema penitenciário fluminense de ter se transformado em uma “espécie de escritório do Comando Vermelho (CV)”, de onde líderes do grupo criminoso dariam ordens e orientações para atividades diversas. Ele afirma que o CV ampliou sua atuação para além do tráfico de drogas, gerando lucro também com a venda de gás e de serviços de internet nas comunidades. O ex-governador mencionou ainda que um vereador eleito no Rio seria o “dono da internet das comunidades do Comando Vermelho”.
O “pacto com o crime”
Garotinho sustenta que existe um pacto entre o governo estadual e o Comando Vermelho. Ele apresentou quatro pontos que, segundo ele, demonstrariam essa relação:
Proteção seletiva: Operações policiais concentradas em milícias e no Terceiro Comando, enquanto o CV seria “poupado” e teria ampliado seu território.
Liberação de líder: A saída de um dos chefes do CV, conhecido como “Abelha”, pela porta da frente de um presídio, atribuída oficialmente a um “erro no sistema”.
Acordo de tranquilidade: Um pacto para evitar ocorrências dentro e fora de presídios durante um grande evento no Rio, o que teria resultado em uma queda abrupta das estatísticas criminais no período.
Negociação de armas com o Exército: O caso mais grave, segundo Garotinho, teria ocorrido quando armas roubadas em Barueri (SP) foram localizadas na Rocinha. Em vez de uma operação para cercar a comunidade, o subsecretário de inteligência do sistema penitenciário, Leonardo Francisquin, teria negociado diretamente com líderes do CV no presídio para uma “entrega voluntária”. As armas teriam sido deixadas em um carro em Jacarepaguá, sem prisões.
“Se isso não for um conluio do governo com o crime, eu já não sei mais o que é”, concluiu Garotinho.
Rede de propina e o “rei do ouro”
O ex-governador também mencionou a prisão recente do suplente de deputado conhecido como “TH Joias”, que teria ameaçado “contar tudo” caso não fosse solto até o final de novembro. Segundo Garotinho, parte das propinas pagas ao governador Cláudio Castro e ao presidente da ALERJ, Rodrigo Bacelar, era proveniente de ouro adquirido junto ao chamado “rei do ouro”.
Esse “rei do ouro”, identificado apenas pelas iniciais MM, teria sido associado a Bacelar após Garotinho rastrear um helicóptero que transportava o presidente da ALERJ. As investigações conduzidas por Garotinho conectaram MM a empresas como a Zocar Caminhões e a Constro Verde, que possuem grandes contratos com a Cedae — incluindo uma obra de R$ 450 milhões no Novo Guandu, somando cerca de R$ 500 milhões em contratos. As diretorias da Cedae, segundo o ex-governador, eram indicações conjuntas de Castro e Bacelar.
O escândalo do CEPERJ e o dinheiro da Cedae
Outro ponto central levantado por Garotinho diz respeito ao escândalo envolvendo o CEPERJ e a Fundação Saúde. Ele afirmou que 27 mil pessoas teriam sido contratadas para trabalhar em campanha eleitoral.
Os pagamentos — mais de R$ 400 milhões — teriam sido feitos com recursos da privatização da distribuição de água da Cedae. A maioria, segundo ele, ocorria “na boca do caixa”, em dinheiro vivo, sem recibo e com fraude ao INSS. No julgamento do caso no Tribunal Eleitoral, em que o governador foi absolvido por 4 votos a 3, Garotinho afirma que estava em jogo o uso impiedoso da máquina pública para derrotar adversários.
Enriquecimento ilícito de Bacelar e loteamento de órgãos
Rodrigo Bacelar, presidente da ALERJ e descrito por Garotinho como “governador de fato” até poucos dias atrás, é acusado de enriquecimento ilícito. Garotinho afirma que Bacelar declara pagar apenas R$ 2 mil de aluguel por uma cobertura duplex no Rio de Janeiro e possuir uma mansão em Teresópolis avaliada entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões.
Segundo o ex-governador, o patrimônio seria fruto do loteamento de órgãos estaduais, com Bacelar controlando secretarias como Infraestrutura, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e a Secretaria de Educação. Ele teria se tornado o articulador da base de apoio do governo em troca de cargos estratégicos — incluindo os da segurança pública.
Garotinho encerrou dizendo que a situação do Rio de Janeiro atingiu um nível de “barbaridade”, afirmando que Sérgio Cabral, condenado por corrupção, seria apenas um “aluno” diante do esquema atual.
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