Vorcaro preso: presidente do Banco de Brasília é afastado; Castro investiu R$ 1 bi no Mast

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A prisão do banqueiro Daniel Vorcaro e de seu sócio no banco Master, Augusto Lima, expõe uma rede que liga a Faria Lima aos bastidores do poder, em Brasília, onde figuras proeminentes da política fazem lobby e negociatas em troca de benesses oferecidas pelo sistema financeiro.

Vorcaro foi preso ainda na noite de segunda-feira (17) pela Polícia Federal (PF) ao tentar embarcar em um jatinho a caminho de Dubai, nos Emirados Árabes. A operação Compliance Zero foi desencadeada na manhã desta terça-feira (13), sob a hipótese de tentativa de fuga de Vorcaro.

O diretor da PF, Andrei Passos afirmou que o esquema de emissão de títulos de crédito falsos por instituições financeiras que integram o Sistema Financeiro Nacional, investigado na operação, envolve uma cifra que pode ultrapassar R$ 12 bilhões em fraudes.

"Nessa operação de hoje, a fraude é de R$ 12 bilhões, não sei quanto nós vamos conseguir bloquear. Já em dinheiro apreendemos na residência de um investigado R$ 1,6 milhão em dinheiro nessa operação de hoje", disse Passos durante participação na CPI do Crime Organizado no Senado.

Segundo as investigações, o grupo ligado a Vorcaro teria fabricado ao menos 20 títulos de créditos para justificar a transferência de R$ 12,2 bi do estatal Banco de Brasília (BRB) para as contas do Master.

Ligado ao grupo do atual governador Ibaneis Rocha (MDB) e do ex José Roberto Arruda, que já foi preso por corrupção, Paulo Henrique Costa foi afastado por 60 dias da Presidência do Banco de Brasília, juntamente com o diretor financeiro da instituição.

Sócio de Vorcaro, o baiano Augusto Lima se casou em janeiro de 2024 com Flávia Arruda (PL-DF), que foi ministra-chefe da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro, e foi casada com José Roberto Arruda.

Após cumprir pena por corrupção, Arruda atualmente comanda o PL no Distrito Federal, dividindo a atribuição com a Damares Alves.

Antes de se tornar deputada federal, em 2019, e ser alçada ao ministério de Bolsonaro, Flávia foi primeira-dama do GDF durante o governo Arruda, de quem herdou o nome político.

O casal se separou em novembro de 2022, pouco mais de um ano antes de Flávia se casar com o sócio de Vorcaro.

Após ensaiar ser vice de Ibaneis na chapa à reeleição, em 2022, Flávia Arruda saiu candidato ao Senado, mas perdeu a vaga justamente para Damares Alves.

Com o casamento com Lima, Flávia abandonou o sobrenome do ex-marido e retomou o de solteira, Péres. Além disso, assumiu a presidência do instituto Terra Firme, uma ONG fundada pelo atual marido que diz atuar para a redução da desigualdade social na Bahia. 

Tentáculos no Rio de Janeiro

Os tentáculos de Vorcaro no mundo político se estende ao Rio de Janeiro, estado governador por Cláudio Castro que, em outubro, aportou R$ 1 bilhão da RioPrevidência - fundo que paga as aposentadorias no Estado - em aplicações no Banco Master.

O investimento foi feito mesmo com o Master na mira do Banco Central e sob investigação da Polícia Federal por causa das denúncias envolvendo a negociata com o governo Ibaneis Rocha em torno da venda para o Banco de Brasília.

Nesta terça-feira (18), enquanto a PF estava nas ruas para cumprir mandados de prisão e busca e apreensão na operação Compliance Zero, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master.

Um dia antes, a Fictor Holding Financeira, uma instituição também problemática, anunciou a compra do banco de Vorcaro, que preparava a viagem para Dubai, quando foi preso.

A liquidação interrompe o funcionamento da instituição, retirando-a do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Isso significa que o banco fecha, deixa de funcionar.

Elo com Ciro Nogueira

Vorcaro também tem como principal lobista em Brasília o presidente do PP, Ciro Nogueira (PP-PI), um dos principais nomes da articulação em torno da candidautra à presidência de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) pela chamada terceira via - consórcio que une Centrão, Faria Lima e mídia liberal - em 2026.

O senador atua em duas frentes simultâneas na defesa de Vorcaro: de um lado, defende a aprovação de um projeto de lei que daria a deputados e senadores o poder de demitir diretores do Banco Central, enfraquecendo sua autonomia; de outro, aparece em articulações diretas relacionadas à venda do Banco Master ao BRB.

O fator de conexão entre as duas frentes é justamente Daniel Vorcaro, presidente do Master e personagem que transita com desenvoltura entre dirigentes do PP e do União Brasil.

Sua proximidade com Ciro Nogueira é citada como elemento decisivo para o avanço das negociações com o BRB, sobretudo porque o governador Ibaneis Rocha (MDB) busca consolidar aliança eleitoral com essas siglas para 2026 — quando pretende disputar o Senado e apoiar a vice Celina Leão (PP) ao governo do DF.

A presença de Vorcaro em festas, camarotes e reuniões políticas reforça esse alinhamento. No dia seguinte à eleição de Hugo Motta para presidir a Câmara, por exemplo, ele esteve em uma celebração repleta de caciques partidários.

Algumas semanas depois, patrocinou um camarote na Sapucaí que reuniu Ciro Nogueira, Antônio Rueda, dirigentes do PP e do União Brasil, além de parlamentares de peso. Esses encontros, segundo analistas do mercado, não são meramente sociais: revelam o esforço do Master para construir uma rede de proteção política em meio ao desgaste crescente de sua reputação.