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É preciso investigar o papel de Roberto Campos Neto na fraude do Banco Master

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É preciso investigar o papel de Roberto Campos Neto na fraude do Banco Master
É preciso investigar o papel de Roberto Campos Neto na fraude do Banco Master (Foto: Reprodução)

A implosão do Banco Master e a descoberta de fraudes bilionárias reveladas pela Operação Compliance Zero escancaram um ponto que não pode mais ser varrido para baixo do tapete: por que Roberto Campos Neto deixou a farra ir tão longe? Diante dos alertas insistentes do mercado, do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e de banqueiros de peso, como justificar a apatia regulatória que permitiu que o Master se transformasse numa bomba-relógio de R$ 12 bilhões?

O silêncio do ex-presidente do Banco Central é politicamente suspeito. Segundo revelou o colunista Lauro Jardim em maio deste ano, o FGC enviou 38 comunicados pedindo esclarecimentos sobre o Master. Trinta e oito. Não foram dois, nem cinco — trinta e oito alertas formais. Além disso, grandes banqueiros apresentaram os mesmos temores em reuniões oficiais no ano passado. E nada aconteceu. Por que Campos Neto não agiu? Por incapacidade? Por escolha? Ou por conveniência?

Os indícios de que interesses políticos contornaram a atuação técnica do regulador são cada vez mais incômodos. A proximidade entre Campos Neto e Ciro Nogueira, principal aliado de Daniel Vorcaro, dono do Master, não é uma especulação conspiratória: está registrada em fotografia de 2021, com direito a confraternização e churrasco “fogo de chão” ao lado de ministros de Jair Bolsonaro. Naquele momento, Campos Neto já presidia o BC, nomeado pelo próprio Bolsonaro. Nogueira, por sua vez, viria a ser o padrinho político do banqueiro cuja instituição romperia todas as barreiras do risco.

A afinidade política, por si só, não comprova favorecimento. Mas, diante da sequência de fatos, torna-se impossível ignorar o contexto. Especialmente porque, durante a gestão de Campos Neto, todos os sinais de gestão temerária do Master estavam explícitos. Mesmo assim, a fiscalização simplesmente não veio.

O Master explodiu sua captação ao usar o FGC como isca de venda: CDBs prometendo até 140% do CDI, uma anomalia evidente em comparação ao sistema bancário. A instituição só emitiu, em poucos anos, mais de R$ 45 bilhões em depósitos a prazo — oito vezes mais do que em 2021. Esse crescimento explosivo moveu o mercado, que cobrou o BC. E o que o BC fez? Deu respostas tímidas: exigiu contribuições extras para o FGC e, só em 2024, apertou minimamente as regras de emissão de títulos.

Frouxidão regulatória não é acidente — é decisão.

E as decisões mais problemáticas vieram no âmbito técnico. Em outubro de 2023, ainda sob a gestão de Roberto Campos Neto, o Banco Central editou uma norma que permitiu que bancos com grande exposição a precatórios e direitos creditórios — como o Master — não fossem obrigados a recalcular o risco desses ativos. A regra estabeleceu um corte em 30 de junho de 2023, salvando justamente as instituições já carregadas de papéis de altíssimo risco e baixíssima liquidez. Era como permitir que um ônibus sem freio continuasse descendo a ladeira, desde que tivesse começado a acelerar antes de determinada data.

Essa mudança regulatória foi decisiva para manter o Master operando sem a necessidade de aporte dos sócios ou venda de ativos. E foi assinada durante a gestão de Campos Neto.

Enquanto isso, no Congresso, o aliado político do controlador do Master — o senador Ciro Nogueira — tentava elevar o limite de garantia do FGC de R$ 250 mil para R$ 1 milhão, o que facilitaria ainda mais a expansão das emissões de bancos médios e pequenos. A proposta foi rechaçada por todas as entidades bancárias sérias do país e acabou derrotada. Mas sua mera existência reforça o problema: havia um movimento político coordenado para ampliar o espaço de atuação justamente das instituições que vinham distorcendo o sistema.

Sob a presidência de Gabriel Galíplo, o BC teve de liquidar a Master Corretora e investigar os desdobramentos que a Polícia Federal agora expõe: operações fraudulentas, créditos falsos, substituição de ativos duvidosos aceitos após aprovação contábil do próprio Banco Central.

Como é possível que tudo isso tenha acontecido sem que quem tinha o dever de impedir… impedisse? A pergunta central — e incontornável — é esta: qual foi o papel de Roberto Campos Neto na permissividade que permitiu a escalada do risco sistêmico do Master?

Porque, diante do histórico de alertas ignorados, vínculos políticos, decisões regulatórias lenientes e omissões sucessivas, a hipótese de que o ex-presidente do Banco Central falhou gravemente no exercício de suas funções não é apenas plausível — é inevitável.

Se o sistema financeiro brasileiro está hoje às voltas com os escombros dessa crise, é porque, por muito tempo, quem deveria apertar o freio decidiu deixar correr solto.

E isso não pode ficar sem resposta.

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